Sobre MUTO

Hoje não farei minhas divagações pseudo-filosóficas-sentimentais. Hoje estou dando férias para minha cabeça. Mas como eu sou eu e o mundo nunca é o bastante coloco uma animação feita em Buenos Aires, mostrando que o direito de viajar mentalmente não é só meu. Quem sabe em breve eu não saia de dentro do muro e também não coloque em prática algumas das minhas viagens mentais ?

Aos viajantes com todo carinho,

maio 16, 2008 at 8:29 pm Deixe um comentário

Sobre a Lagarta Listada do Manuel Bandeira

Namorados

O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
— Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com a sua cara.

A moça olhou de lado e esperou.

— Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê uma lagarta
listada?

A moça se lembrava:
— A gente fica olhando…

A meninice brincou de novo nos olhos dela.

O rapaz prosseguiu com muita doçura:

— Antônia, você parece uma lagarta listada.

A moça arregalou os olhos, fez exclamações.

O rapaz concluiu:

— Antônia, você é engraçada! Você parece louca.

maio 5, 2008 at 5:03 pm 1 comentário

Sobre o post sem título

Hoje fez um dia lindo. Daqueles dias de céu tão azul, mas tão azul que você acha que pode tocar o infinito. Nem aquela camada de poluição o conseguiu borrar. Me deu vontade de caminhar calmamente pela rua, ver como as pessoas se comportam em um dia tão simples e tão bonito. Coloquei meus óculos escuros e liguei o mp3. Caminhei sincopadamente como se a rua desnivelada desse um pouco mais de charme à Madeleine Peroux. Foi quando avistei um casal, andando harmoniosamente rumo à algum lugar entre o metrô Paraíso e o fim do letreiro do ônibus. Instantaneamente me veio uma pergunta: “Como saber que realmente estamos gostando de alguém ?

Sempre pensei que fosse ser acometida por paixões avassaladoras por todo o tempo da minha vida. Essas que a gente bate o olho e sabe no melhor estilo pá-pum que é isso. Mas ao mesmo tempo que me alimentava, me assustava com os efeitos que as “ditas” paixões avassaladoras causavam em mim. Das duas uma, deixei eu de ser medrosa ou findei um ciclo de paixões platônicamente avassaladoras ? Quer saber ? Pouco importa. A música vai acabar uma hora. Whatever. De vez em quando é bom, mesmo que tardiamente sair dos entretantos e chegar aos finalmentes.

abril 29, 2008 at 3:39 am 1 comentário

Conversas Paralelas

– Saudade de ti !!

– Eu também !! Amiga posso te perguntar uma coisa ?

– Claro uai !!

– Ficastes com o Paulinho no domingo ? Não lembro !!

– Se estás falando do rapaz alto, de camisa preta e super charmoso, sim. Nós trocamos alguns fluidos ao som de Tim Maia.

– Ai !! Que estranho !!

– Como assim ? Qual o problema ? Ele é gay ?

– Não. É meu amigo.

– Credo. Então você prefere que eu fique com os teus inimigos ?

____________

– Tem Virada Cultural no fim de semana. Não vais me abandonar né ?

– Amiga eu tou fudida. Tenho que fazer uma cena às 4h30. Tenho que ir voando.

– Então voa meu amor. Voa. Eu confio nas suas asas de fadinha.

– Ai que linda !!! Hehehehe !!

– Asinhas de fadinha safadinha !!

– Nojenta !!!

_________

– Na realidade você está com gastrite. Mas terá que fazer uma endoscopia para fecharmos o diagnóstico. Enquanto isso recomendo que você evite bebidas alcoólicas, café, refrigerantes, coisas com fritura, condimentos, corantes, laticínios e etc.

– E me alimentar de luz ? Eu posso ?!!!

abril 24, 2008 at 8:00 pm 1 comentário

Sobre a Educação Sentimental de uma Vampira

Estou magra. Tão magra que ando assustando as pessoas. Tão magra que me perguntam se eu quero entrar em uma garrafa, tão magra que as pessoas começam a dizer que eu tenho que ganhar um pouco de peso. Não tinha reparado o quanto eu estava magra até ontem à noite. Depois de muita insistência de alguns amigos, fui coagida a me arrumar. E fui vasculhar o guarda-roupa. E lembrei da música dos Titãs “Eu não caibo mais nas roupas que eu cabia / Eu não encho mais a casa de alegria / Os anos se passaram enquanto eu dormia…”.

Era assim que eu me sentia até a data do meu aniversário e um pouco além dela também. Pela primeira vez em muitos anos, não quis comemorar meu aniversário, o que de acordo com uma amiga era resultado do meu inferno astral aliado efuzivamente por uma crise, a Crise dos 7. Na realidade se fosse realizar a conta na ponta do lápis seria a Crise dos 3×7 = 21. Sete anos de formada, sete anos de São Paulo e saindo dos 27 para os 28.

Estou melhor, já me sinto bem. As pessoas estranham meu jeito um pouco Dustin Hoffman em Raiman de ser. Não sou autista e tampouco sei fazer contas matemáticas complezas sem o auxílio de uma boa calculadora. Não sei o que é matriz. Não sei calcular porcentagem. Não sou boa com geometria. Não sei sobre a função social dos logarítimos ou seus congêneres. Mas sempre compreendi bem a noção de conjunto e as quatro operações fundamentais.

Tem uns tempos na vida que um conjunto de coisas desandam e começam a andar e entram em intersecção com algo que não deveria ter e quando tentamos tirar um pedaço fica assim, capenga. Estou começando de novo e recomeços são difíceis. Não espero que ninguém entenda o que eu não entendo. Pelo menos nesse novo “começo” tenho algumas coisas velhas que me fazem feliz. Uma delas são os meus amigos. Lindos. Problemáticos. Histéricos. Surtados. Complexos. Passeando na corda bamba como eu. Afinal de contas diga-me com quem andas e te direi quem és. Já diz o ditado popular. Gosto de velos sorrir. Gosto de saber que eles gostam de mim, ou melhor gostam de mim o suficiente para me aturar nos meus dias de sol e nos de chuva e trovões.

O melhor das crises ou de qualquer momento trash é quando se dá a passagem da tormenta, um ponto em qua começamos a escalar os tijolinhos de cimento que dão pro fundo do poço em direção ao foco de luz. Reforcei algumas coisas em mim e espero ter me despedido de outras. Sobre as coisas que levo, tem a lista do que “Eu Já Sei sobre mim”:

– Descobri que eu gosto de tirar e ver fotografias-conceito; que eu definitivamente odeio atum; que gosto de vodka e até consigo tomá-la pura com gelo; que eu não preciso dizer sim prá tudo ou todo mundo; que quem tiver que gostar de mim o fará e quem não gostar o fará também; beijar rapazes desconhecidos na balada é legal, mas é melhor beijar alguém de quem você queira ouvir falar depois; que sexo por sexo é bom, mas que eu prefiro com alguém que eu não queira chutar da minha cama 2 minutos depois do ato consumado; que você pode ficar emocionada por saber e ver, mesmo que por msn que uma das suas melhores amigas de infância deu à luz a menina com nome composto esquisito, mas com um apelido gracioso; que você sente saudades genuínas de pessoas que estão na sua vida faz muito ou pouco tempo; que a gente se apaixona e desapaixona e se apaixona de novo na velocidade da luz; que eu sou reservada demais, tanto que nem eu sei como me alcançar; que eu odeio Djavan, Seu Jorge é uma Fraude e Ana Carolina uma desgraça para os ouvidos; que eu amo filmes de lugares remotos, com tramas esquisitas e filmes franceses que não são remotos, mas tem finais completamente horríveis; que as pessoas confundem loucura com felicidade e que esquecem a diferença entre ouvir e escutar; que a minha diarista vive me dando bolo, mas eu continuo gostanto da maldita; que eu não só não consigo dormir cedo, mas gosto de dormir tarde o suficiente para às vezes ou muitas vezes ver as cores que se formam no céu ao nascer do sol.

Sobre o que eu não sei ? Acho que vou deixar para depois. Mas a questão básica da outra lista é tal qual o refrão de uma canção dos Los Hermanos:

– Quem é mais sentimental que eu ?

abril 22, 2008 at 12:27 am Deixe um comentário

Sobre o desequilíbrio

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O amor entrou em casa, passeou pela sala, correu pela escada, subiu no telhado. Desequilibrou-se ao olhar para a lua. Caiu lá do alto e quebrou o pescoço, às 23hrs da noite de um dia qualquer.

março 6, 2008 at 3:13 pm 3 comentários

Sobre o medo do medo que dá

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Eu sou uma menina caracteristicamente medrosa. Nunca consegui subir em árvore, telhados e coisas afins. Tinha medo de me queimar ou perder a mão com fogos de artifício. Tinha medo de ser atropelada, do fim do mundo, de injeção e do garrafeiro – na minha infância um homem que recolhia garrafas na época em que elas eram todas de vidro retornável. Depois um pouco mais velha tinha medo da brincadeira da mesa branca ou a do copo, altura e de avião. Tinha medo de não passar no vestibular. Depois tive medo de morrer – o que de vez em quando me aflige – ou de gente que eu amo morrer. Até hoje o mais ridículo, eu sei, é o de borboletas. Eu as odeio e pornto.

Eu já tive medo do controle que a gente perde quando se apaixona ou como me diz uma grande amiga, eu tenho medo de perder o controle do incontrolável. O que isso quer dizer ? É que eu quero dar uma ordem na desordem. Nos sentimentos, nas pessoas. Meu racional sabota o meu emocional e eu sigo assim, sem rumo, sem paixões. Evitando o que tem de bom e me preservando do que há de mal.

Só que eu acho que encontrei alguém por quem vale a pena se descontrolar. Não me refiro a ficar louca, histérica, debilitada. Mas feliz por ter falado no telefone ou cruzado uma rua escura no meio da madrugada rumo ao nada. Somente de mãos dadas, sem trocar qualquer palavra entre uma baforada ou outra do cigarro Ducados.

Tenho medo. Muito medo. Medo de me apaixonar e me entregar sem medo. Hoje não consegui falar com ele e tou engasgada. Queria que ele pudesse entender que sou estranha não porque eu quero. A culpa é do medo. Um pânico que me dá. Umas vozes do além ou da mesa ao lado que me dizem que tudo vai acabar mal. Ai Deus !! Me ajuda a fazer passar. Eu não quero correr pro lado oposto. Me faz persistir e esquecer esse companheiro de uma vida – 27 anos ao menos. Me dá uma bicuda prá frente, me ajuda a afastar, me ajuda a caminhar. É que eu ando com um medo de não parar de ter medo desse medo que dá.

março 4, 2008 at 2:22 am 1 comentário

Sobre as mudanças

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No último post que eu escrevi, há algum tempinho, coloquei a letra de Roda-viva do Chico. Eu acho que essa é uma das melhores coisas já escritas por qualquer compositor de lingua portuguesa. E defenderei meu ponto de vista afirmando o seguinte, tem coisa mais bizarra que as voltas que o mundo dá? Uma hora a gente se sente caminhando nas nuvens e do nada, do nada mesmo, cai de bunda no chão e se arrebenta todinho (a) ? E mais engraçado ainda é que quando você está no chão, algo bobo acontece e te deixa nas nuvens de novo ? Estou começando a achar que não existem pessoas bipolares, mas vida bipolar. Transtornos de humor no decorrer dos minutos, horas, dias, semanas, meses, anos. Tudo muda. Tudo termina e recomeça. Andei lendo que os eclipses trazem em si eventos dramáticos, rompimentos e começos. O eclipse do dia 21 trouxe o meu fim e o meu recomeço. Novas esperanças. Acho que meu ano começou agora. Não no calendário, mas em mim. Acho que só mudaria uma coisa na canção do Chico.  O título. Só que talvez a intenção dele tenha sido justamente o que eu vejo com mais clareza agora, a mensagem implícita. Qual é ? Você sabe, não é ? Provavelmente antes do que eu ?! Roda-vida!

fevereiro 27, 2008 at 2:37 pm 2 comentários

Sobre os dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu

  Sinto muito senhoras e senhores, mas o primeiro post do ano é meio deprê. Como boa brasileira meu ano começou só depois do carnaval. Me jogaram confete e serpentina, ensaiei um desfile na apoteose, mas tou perigando de ser rebaixada para o grupo de acesso. Não direi muito, o máximo que manifestarei, para quem quiser compreender peço que leia o refrão. O mundo rodou num instante e…..

Roda Viva (Chico Buarque) 
Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino pra lá
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira pra lá
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
A roda da saia, a mulata
Não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola pra lá
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
O samba, a viola, a roseira
Um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade pra lá
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

fevereiro 12, 2008 at 2:45 am Deixe um comentário

Sobre o Menino e a Menina

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À primeira vista ele não lhe chamou a atenção. Era um garoto de cabelo desgrenhado e barba por fazer, ou melhor, uma grande barba por fazer. Não tinha o estilo dos garotos que a menina de cabelo estranho estava acostumada a olhar e re-olhar. Ele parecia tão certo. Mas eis que a festa estava rolando e ele resolveu conversar para treinar melhor a língua que não era originariamente sua.

O menino certo era simpático e após falar um pouco sobre ele conseguiu chamar bem mais atenção do que os garotos que ela costumava olhar! Ele tinha um jeito de menino legal, com projetos legais.

Um tempo depois eles se reencontraram por acaso (será ?) e foram ao teatro e depois tomaram cerveja e conversaram. Combinaram de ir ao cinema para assistir a uma mostra de Direitos Humanos. E na hora marcada os dois estavam lá e sentaram um ao ldo do outro e comeram chocolate. E viram uma animação pesada e desanimaram quando o segundo filme estava no meio. Resolveram sair e ir até a Livraria mais próxima e mais legal das imediações. Conversaram mais. Decidiram atravessar a rua meio sem destino. Viram uma vitrine e comeram pizza. Conversaram mais e riram mais um pouco. Mas o relógio resolveu correr e eles se despediram depois de uma caminhada até o metrô.

A menina escreveu todos os seus contatos no caderno que ele carregava dentro da mochila. Na hora da despedida deram um sorriso e um abraço meio desajeitado. Deixaram no ar que iriam se encontrar ainda naquela semana. Ela desceu a escadaria do metrô olhando para o tênis vermelho e pensando com um sorriso meio de boca: – Tomara !


dezembro 11, 2007 at 2:31 am 4 comentários

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